Dois episódios nos últimos dias mexeram comigo e despertaram uma reflexão que eu quero compartilhar. Um foi a viagem do bilionário Jeff Bezos ao espaço, ocasião que colocou de vez a empresa Blue Origin na nova corrida espacial, marcada pela liderança da iniciativa privada. O outro foi a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Tóquio. Dois fatos distintos que ocorreram em lados opostos do mundo, mas que entregam a mensagem de esperança pós-Covid contida na capacidade da humanidade resistir e se recriar.
A pandemia marcará gerações por conta das mais de 4 milhões de famílias no planeta que choram por seus mortos e pelo impulso transformador que ela deixa na sociedade. Raramente na história da humanidade ficamos diante de ameaças que fora do controle podem comprometer a sobrevivência da espécie. A última antes do novo coronavírus havia sido o iminente conflito atômico na Guerra Fria.
Reagimos ao Covid-19 com o conhecimento que acumulamos, desenvolvemos e aplicamos. Cientistas formaram uma fantástica rede global para trocar informação, em questão de dias tínhamos o sequenciamento genético do vírus, em um intervalo recorde começamos a vacinação em massa. Portanto, sob o ponto de vista do conhecimento demos uma pronta reposta ao perigo real e imediato da doença.
Resistência
A viagem espacial de Bezos – junto com a ambição de Elon Musk em chegar a Marte e demais iniciativas de exploração do universo – mostra instinto de sobrevivência. Afinal, o principal motivo para se investir bilhões em foguetes, pesquisas e treinamentos é garantir a continuidade do Homo sapiens. A ocupação do espaço sideral pode nos salvar da extinção provocada pelo choque de um asteroide contra a Terra ou alterações irreversíveis que tornem impossível a vida no planeta. Uma visão de que, diferentemente das demais espécies, podemos sobreviver mesmo que a natureza deseje o contrário.
No caso das Olimpíadas a respeitosa cerimônia de abertura no Japão mostrou nosso poder de recriar na adversidade. Por conta da pandemia o evento esteve perto do cancelamento, os atletas precisaram inovar para manter os treinamentos, criamos tecnologia para tornar as disputas possíveis. Viramos o jogo, no entanto. Os recordes começam a cair e a emoção aos poucos contagia quem participa e quem assiste as provas de longe.
Esperança pós-Covid
A luta nos últimos dois anos nos fortaleceu. Pensa no quanto você passou para tocar a vida e proteger sua família, o quanto você se virou com as mudanças no trabalho, o quanto você suportou as perdas. São feitos semelhantes a uma viagem para o espaço e à realização dos Jogos Olímpicos. Apenas em escala menor.
O mundo pós-Covid precisa que você use a sua capacidade de superação como impulsionador. Porque teremos desafios maiores pela frente – mudança climática e invasão da inteligência artificial são dois dos principais à vista. Seremos exigidos. Mas se usarmos o que temos de melhor, o conhecimento, a criatividade e a humanidade, temos a capacidade de superar o que for. Seja uma ameaça que vem do espaço seja um ser microscópico como o coronavírus.
Texto publicado Por Wladimir D’Andrade no jornal Diário da Região (para assinantes) em julho de 2021.