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Grande demais para quebrar

Médico de jaleco veste óculos de realidade virtual em ambiente hospitalar. Google e demais big techs querem dominar a indústria da saúde.
Google e as outras big techs querem se tornar empresas “grandes demais para quebrar” na área da saúde.

A falência do banco norte-americano Lehman Brothers em 2008 foi o marco de uma das maiores crises econômicas da história. Provocou uma reação em série que assolou o sistema financeiro global e resultou em miseráveis anos de baixo crescimento, desemprego e pobreza. Conhecia-se ali, portanto, o termo “grande demais para quebrar”, quando o desastre de um negócio tão intrínseco na economia provoca um colapso total.

Hoje são as gigantescas companhias de tecnologia, as big techs, que dão as cartas. Diversas áreas da vida – trabalho, consumo, relações sociais – dependem de Google, Amazon, Apple e Microsoft. E nos últimos anos elas avançaram sobre um setor sensível às pessoas, a saúde.

Atraídas pelos US$ 15 trilhões que esta indústria deverá movimentar em 2030, segundo estimativa com base em estudo “O Futuro da Saúde” da consultoria PwC, as big techs têm o poder de integrar centros médicos, planos de saúde e tratamentos ao massivo uso de dados e provocar profundas mudanças – veja, por exemplo, o que ocorreu com a publicidade.

O Google na saúde

De todas elas, a Alphabet, dona do Google, é a quem mais investe. Injetou US$ 1,7 bilhão em ideias futuristas de saúde em 2022, enquanto as demais aportaram US$ 100 milhões, conforme a empresa de inteligência CB Insights.

O Google atua na área por meio de quatro verticais: dispositivos vestíveis (os wearables), registros de saúde, IA e longevidade. Destaques para o Care Studio, ferramenta para equipes médicas de organização de dados dos pacientes; para as pesquisas com o objetivo de aumentar a longevidade e, eventualmente, interromper o envelhecimento; e para a DeepMind, empresa comprada em 2014 que cria inteligência artificial para diagnósticos e tratamentos.

A Amazon, por sua vez, aproveita o profundo conhecimento de tendências, vendas e distribuição para entrar na logística de suprimentos. Não se assuste se ela transformar a farmácia atual em um multibilionário negócio virtual de entregas instantâneas, assim como fez no e-commerce.

Enquanto isso, a Apple usa seus aparelhos para colher dados dos clientes e conectar tais informações a centros médicos. A companhia detém mais de 40% do mercado de relógios inteligentes, o que a coloca em posição privilegiada para conduzir pesquisas e oferecer serviços personalizados. Já a Microsoft integra suas renomadas plataformas de videoconferência, gestão e nuvem para aumentar a colaboração entre profissionais de saúde.

Longo caminho

Os desafios das big techs, porém, são enormes. A saúde tem uma característica de difícil alcance de escala – o resultado de um paciente depende do hospital, do corpo clínico, do plano de saúde e de uma infinidade de participantes. E o Vale do Silício foi construído sobre negócios escaláveis de grande margem de lucro. Ainda assim avançam. É fácil vislumbrar as big techs no domínio global do mercado de saúde. Difícil fica, no entanto, imaginá-las com um final como o do Lehman Brothers, pois o fracasso de uma companhia “grande demais para quebrar” neste caso significará perdas inestimáveis para a humanidade.

Texto publicado por Wladimir D’Andrade no jornal Diário da Região em agosto de 2022.

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