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O que será da Geração Covid?

Criança na primeira infância esboça o choro incomodado com o uso de máscara contra a Covid-19.
Como a Covid-19 vai influenciar a consciência da geração que chegou em um ambiente pautado por medo, incerteza e isolamento?

É intrigante pensar nas crianças que passaram boa parte da vida até agora – senão ela inteira – dentro de um círculo muito restrito de pessoas. Milhões de jovens seres humanos pouco puderam experimentar sensações fora de casa. Eles nunca tiveram um encontro com outros pequenos para brincar e quando houve oportunidade de conhecer alguém viram estranhos que usam máscaras. São crianças que fazem parte da Geração Covid, que reúne os nascidos a partir de 2015 e os que virão até o final da década, porque o trauma da doença na humanidade levará anos para ser digerido mesmo após o término da pandemia.

De acordo com a UNICEF 1,4 bilhão de crianças e adolescentes vivem em um dos países que sofrem com confinamentos. Isto é, 60% dos meninos e meninas do planeta enfrentam restrições. E bem na fase da vida em que estão começando a entender o mundo. Como, então, a Covid-19 vai influenciar a consciência da geração que chegou em um ambiente pautado pelo medo, pela incerteza e pelo isolamento? 

Escolas tentam desenvolver ferramentas de educação remota que mantenham jovens presentes e dedicados. No entanto, ao menos 4 milhões de alunos abandonaram o ensino formal, segundo pesquisa do Instituto Datafolha. Ou seja, nossa sociedade sofrerá uma importante perda de capital acadêmico.

Socialização da Geração Covid

Milhões de crianças ainda terão meses à frente sem a chance de passar por experiências físicas e interações sociais. Fatores essenciais na formação da personalidade.

Elas crescerão com mais espaço para a vida online. Terão à mão um vasto repertório de ferramentas que permite ver mas não tocar, que possibilita a comunicação mas não o abraço. Tendem a criar, portanto, convivências despersonalizadas, sem intimidade e com fins previamente definidos.

Esse comportamento pode formar uma geração de pessoas solitárias. O que gera um ponto de atenção para a saúde mental de jovens. Eles já estão ameaçados por distúrbios psíquicos enraizados na sociedade. Antes da Covid-19 a Organização Mundial da Saúde alertava sobre o risco da depressão se tornar uma pandemia. Então, será preciso dar atenção especial a transtornos de humor e ansiedade e ao consumo exagerado de álcool e outras drogas.

Tudo isso preocupa? Com certeza. Mas está longe de definir um futuro de fracassos para a Geração Covid. Esta é a conclusão de pesquisadores que estudam consequências de eventos traumáticos em crianças. Segundo eles, ser exposto a uma grande mudança social não determina necessariamente a vida inteira de alguém. A maior parte dos jovens das gerações anteriores que vivenciaram tragédias conseguiu se adaptar às dificuldades.

Os desafios da Geração Covid

No entanto, o amadurecimento emocional e social é imperativo para que a Geração Covid possa ser feliz. Na verdade, é essencial para o triunfo da humanidade como um todo, que terá de enfrentar difíceis discussões no futuro sobre “super-humanos” com DNA modificado, sobre o colapso social e do trabalho decorrente da substituição de pessoas por robôs e sobre o aquecimento global. Meu desejo é que o estigma negativo da Covid-19 se limite ao termo dado para definir a geração, não às suas ações. 

Texto publicado Por Wladimir D’Andrade no jornal Diário da Região (para assinantes) em março de 2021.

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