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O futuro cyberpunk da humanidade

Mulher com tintura no corpo simulando partes robóticas como ela fosse um cyborg. Implantes de chips no cérebro podem nos levar a algo semelhante
Em julho de 2022 a empresa Synchron implantou um chip no cérebro de um paciente com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), de NY.

Gosto demais do filme cyberpunk A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell, estrelado por Scarlett Johansson no papel de uma ciborgue comandante de uma força tática policial. Além de bela fotografia e cenas de ação de tirar o fôlego, o longa coloca em pauta as consequências práticas e éticas de implantes no corpo humano, como um chip no cérebro, para aprimorar características como visão, força e inteligência. Tecnologia distante da realidade atual, correto?

Errado. Em julho a empresa Synchron implantou um chip no cérebro de um paciente com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), no centro médico Mount Sinai West, Nova York. A doença degenerativa leva à paralisia motora irreversível. O dispositivo, então, busca fazer com que o paciente se comunique usando o pensamento quando já não consegue mover nenhum músculo do corpo. Além do norte-americano, quatro pessoas na Austrália têm o chip implantado na cabeça e, de acordo com a empresa, conseguiram enviar mensagens no WhatsApp e fazer compras online.

Como funciona

O dispositivo fica dentro de um vaso sanguíneo no córtex motor do paciente. Capta pulsos cerebrais e os envia para uma base externa, como um smartphone. Ali, os pulsos são analisados por uma inteligência artificial (IA) que traduz os pensamentos humanos em comandos de computador. A tecnologia vai no futuro curar paralisias, cegueira e outras doenças neurológicas que atingem 1 bilhão de pessoas no planeta, segundo a Organização Mundial de Saúde.

No entanto, a interface cérebro-computador tem potencial para fazer muito mais. O bilionário Elon Musk é dono da Neuralink, startup que também projeta chips cerebrais. Para ele, além de útil no tratamento de doenças a tecnologia facilitará a “simbiose” entre humanos e IA para evitar que a espécie “fique para trás” em relação às máquinas inteligentes.

Estamos falando aqui de super-humanos, pessoas que adquirem corpos mais fortes e ágeis e inteligência superior capazes de criar desigualdade biológica-cibernética: poucos indivíduos que não se identificam mais como iguais a outros seres humanos, mas superiores. Este cenário distópico preocupa a comunidade científica.

Reação da comunidade científica

Em ensaio publicado na revista Nature, médicos, neurocientistas e cientistas da computação pedem diretrizes éticas no desenvolvimento da tecnologia para aprimorar ou restaurar capacidades humanas. Cientistas também questionam sobre a perda de privacidade tendo em vista que os pensamentos poderão ser lidos por terceiros, quem controla os dados de atividade cerebral dos usuários, o que acontece se o dispositivo sofrer um ataque hacker ou a empresa que o criou falir.

A tecnologia evolui em velocidade muito superior à capacidade humana de entender as consequências da sua aplicação. Sempre foi assim e talvez este drama faça parte da história humana até o seu final. Justamente por isso ela precisa estar o tempo todo em discussão. Senão, ficções científicas como o filme da Scarlett Johansson poderão pular da tela do cinema para o cotidiano, com efeitos terríveis para a humanidade.

Texto publicado Por Wladimir D’Andrade no jornal Diário da Região em setembro de 2022.

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