El Salvador se tornou em junho de 2021 o primeiro país do mundo a aceitar oficialmente o Bitcoin, a moeda virtual que inflama discussões sobre investimentos. Notícias como esta e de grandes empresas que adotaram o ativo para pagamentos – o maior exemplo, a montadora Tesla do bilionário Elon Musk – consolidam o Bitcoin na cena financeira. A discussão, porém, passa ao largo do que realmente interessa, a tecnologia por trás do Bitcoin que permite a sua existência. A tecnologia blockchain.
O blockchain é um sistema eletrônico em rede de computadores para registro de informações. Serve, por exemplo, para garantir a validade das transações, como quando uma pessoa compra um Bitcoin de outra. O blockchain tem a responsabilidade de assegurar que o Bitcoin negociado saiu da conta do primeiro indivíduo e agora pertence ao segundo. No sistema financeiro convencional quem faz esse papel são os bancos.
Diferenciais e usos da tecnologia blockchain
O diferencial do blockchain está no fato dele, primeiro, ser descentralizado. Não precisamos, portanto, de banco nem de governo nem de ninguém para validar as operações, o próprio sistema o faz com cálculos matemáticos. Segundo, os registros são imutáveis, impossível alterá-los. Para isso ocorrer um hacker tem que violar os milhões de computadores da rede. Assim, o blockchain permite trocar ativos sem intermediários.
As características do blockchain o tornam útil para muitas indústrias, além da financeira com o Bitcoin e demais criptomoedas. Dubai caminha para ter 100% dos registros de imóveis via blockchain. Uma adoção semelhante no Brasil enfrentaria com eficiência questões como a grilagem, porque encerra dúvidas quanto à propriedade da terra. A Estônia, uma das nações mais avançadas no uso da tecnologia, adotou a identidade eletrônica dos cidadãos em blockchain. Registros de nascimento, escolaridade e de trabalho, entre outras informações pessoais, estão em um aplicativo que respeita a privacidade e reduz a burocracia.
A tecnologia funciona para registro de propriedade intelectual, gestão de serviços públicos (água, luz, telefone), certificação de origem de produtos – madeira ilegal? Chega! – e pode permitir que o eleitor vote nas eleições pelo celular de forma segura e inviolável, colocando fim à ideia retrógrada de cédulas em papel. Até o cinema está nessa: a Disney desenvolve um sistema de distribuição de mídia antipirataria. Então, rapidamente o blockchain adentra em várias esferas da nossa vida.
E o Bitcoin com isso?
O Bitcoin tem sua participação nisso, pois atua como um promotor da tecnologia. No entanto, ele é, simplesmente, uma moeda, assim como o dólar, o Real, o euro, milhas de cartão e tantos outros ativos. Até concha foi dinheiro um dia. O Bitcoin pode ser passageiro assim como outras moedas do mundo já foram – vimos esse filme com o Cruzeiro, o Cruzado e tantas outras.
Já o blockchain será massivamente utilizado. Então, informe-se e entenda como essa tecnologia afetará o seu negócio, a sua profissão. Você precisa se preparar, porque o blockchain avança de forma silenciosa enquanto a discussão acalorada gira em torno do Bitcoin.
Texto publicado Por Wladimir D’Andrade no jornal Diário da Região (para assinantes) em junho de 2021.
