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A falência da propriedade

Logo da montadora Ford na grade do radiador de modelo de veículo. Indústria automotiva sente reflexos da falência da propriedade na visão dos millennials.
Além do custo-Brasil, novo comportamento do consumidor leva a Ford a se reestruturar

A primeira quinzena de 2021 ficou marcada pelo anúncio do fechamento das fábricas da Ford no Brasil. Custo excessivo para empreender, insegurança jurídica, má administração da empresa, produtos medíocres e subsídios que desestimulam a produtividade e a competitividade do setor explicam boa parte do fato. São, infelizmente, pontos característicos da indústria nacional.

Além disso, a tradicional montadora norte-americana deixa o Brasil dentro de uma reestruturação pela qual toda a indústria automotiva tem passado no mundo. A nova ordem envolve foco em novas tecnologias – carros elétricos e veículos autônomos –, mas também uma importante mudança comportamental das pessoas: a rejeição do ter.

Principalmente para a geração Millennial (nascidos na década de 1980) e para as mais recentes a propriedade de bens significa sacrifício. É o gasto com a compra, o dinheiro imobilizado no produto e as despesas em forma de tempo e energia para a manutenção. O ter envolve carregar uma estrutura custosa, lenta e pesada, uma incoerência em relação à atual vida dinâmica de rápida movimentação. Ou seja, para o novo consumidor o usar é mais importante do que o ter.

Marcas do “usar”

Grandes marcas surgiram em cima deste conceito. De Airbnb e Spotify a startups que compartilham roupas de luxo, iPhones, joias. Há mulheres suficientes que ao invés de gastar quatro dígitos em uma bolsa Louis Vuitton preferem arrasar com uma original alugada a R$ 10 o dia, por exemplo. Ter o acesso é o que importa e as novas gerações estão dispostas a pagar pelo uso, e não pela propriedade.

O mesmo vale para a indústria de automóveis. Considerável parcela de consumidores, especialmente a que mora em grandes centros urbanos, desistiu de ter um veículo. Isso porque agora utiliza Uber e Cabify ou uma alternativa de mobilidade.

Pesquisa da renomada consultoria Deloitte apurou que entre os brasileiros que usaram um desses apps 55% colocam em dúvida a necessidade de ter um carro próprio. Além disso, segundo o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) desde 2011 caiu de 29% para 21% a parcela de motoristas com até 30 anos. Na Europa e nos Estados Unidos essa queda ocorre há mais de uma década.

Novos modelos de negócio

As montadoras estão se mexendo, muitas com modelo de assinatura ante a tradicional compra do veículo. No Brasil, Volkswagen e Audi iniciaram um esquema de pacotes mensais no ano passado. Toyota também tem seu serviço de assinatura. A Renault opera assim com modelos elétricos desde 2019.

Você, caro leitor, também precisa se questionar sobre o assunto. A cultura da propriedade está perdendo espaço. Produtos de uso recorrente são potenciais candidatos a migrarem para um modelo de assinatura. Filtros de água, móveis, roupas e calçados, brinquedos, malas, eletrodomésticos, bicicletas, itens do material escolar são possíveis escolhas.

Para construir uma nova geração de clientes você deve se movimentar agora. A começar por entender as mudanças de comportamento. Se companhias centenárias e gigantescas como a Ford do Brasil se tornaram obsoletas este risco, portanto, também ronda o seu negócio.

Texto publicado Por Wladimir D’Andrade no jornal Diário da Região (para assinantes) em janeiro de 2021.

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