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A indústria de chips: base do futuro

séries de chips em uma placa hardware de semicondutores em tons de azul
A indústria de semicondutores é custosa. Uma fábrica de chips em escala comercial custa bilhões de dólares e demora anos para funcionar.

A Intel anunciou uma nova fábrica de chips nos EUA com investimento de US$ 20 bilhões. Ao mesmo tempo, o governo norte-americano propõe US$ 52 bilhões de incentivo à indústria de semicondutores seguindo a União Europeia, que já havia divulgado um pacote bilionário. Todos eles querem diminuir a dependência da Ásia, de onde saem 80% dos chips que alimentam a moderna economia digital no mundo. Enquanto isso, no Brasil, o governo fechou a única empresa da América Latina capaz de dominar, do início ao fim, todo o processo da indústria de semicondutores.

A fábrica Ceitec, no Rio Grande do Sul, funcionava desde 2010. O governo alegou seguidos prejuízos para justificar o encerramento das atividades – o Tesouro aportou R$ 617 milhões na estatal na década passada. Mas a empresa tinha o objetivo de colocar o Brasil em uma nova era industrial ao desfrutar de uma tecnologia estratégica na economia global. O lucro viria, então, no longo prazo.

O que são semicondutores

Os semicondutores fazem parte de uma classe de materiais utilizados para fabricar chips, sensores e componentes eletrônicos. Um iPhone de última geração, por exemplo, contém ao menos oito chips, um carro moderno pode facilmente chegar a 3.000 e um avião a jato possui dezenas de milhares deles. Desde o início da pandemia muitos setores sofrem com escassez de chips. Por isso a Apple produziu 10 milhões de iPhones a menos em 2021 e os carros zero quilômetro estão com prazos de meses até a entrega.

O desenvolvimento da indústria de semicondutores é dispendioso. Uma fábrica em escala comercial custa bilhões de dólares e demora pelo menos três anos para funcionar. Nenhum país do mundo que domina a produção de chips atingiu o sucesso, portanto, sem subsídio governamental. China, Coreia do Sul, EUA, Japão, Taiwan e nações europeias, todos têm o governo como parceiro.

O esforço e o dinheiro investido, no entanto, compensam. Mais de US$ 550 bilhões é o que a indústria de semicondutores arrecadou no mundo em 2021. E as tendências tecnológicas apontam para um futuro brilhante. O desenvolvimento de máquinas conectadas à internet, de carros autônomos, de equipamentos médicos, de casas automatizadas, de veículos espaciais e de cidades inteligentes indicam uma crescente demanda por chips.

O legado da fábrica de chips brasileira

Durante a sua existência a Ceitec fomentou o setor: hoje o Brasil possui empresas que atuam em partes – mas não no todo – da cadeia de semicondutores. Desenvolveu componentes para diferentes aplicações, de chips de identificação de veículos a sensores de detecção precoce de doenças. Formou profissionais altamente qualificados que, demitidos, foram trabalhar em empresas que enxergaram a oportunidade de absorver uma rara mão de obra já qualificada.

A Ceitec, porém, ainda tinha muito a contribuir para a indústria nacional que perde representatividade no PIB ano após ano. Entendo a lógica liberal ao justificar o fechamento pelo custo que o empreendimento demandava, mas acho pobre a falta de visão de longo prazo. Preparar um país para o futuro sai caro. Mantê-lo atrasado sai mais caro ainda.

Texto publicado Por Wladimir D’Andrade no jornal Diário da Região em fevereiro de 2022.

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