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Hasta la vista, humanos

Manequim veste um terno preto em cujo ombro está pendurado uma fita métrica. Imagem ilustra artigo sobre tecnologia e inteligência artificial na moda e em atividades criativas
A moda é uma expressão cultural e criativa. Como pode uma inteligência artificial fazer o trabalho de designers e estilistas humanos?

O Concurso Internacional de Inovação em Design de Moda da China recebeu 16 famosos estúdios do mundo em 2019, tendo entre as inscrições a da DeepVogue. A equipe apresentou manequins para 50 juízes especializados que avaliaram a seleção de materiais e cores, alfaiataria e tendências de mercado. A DeepVogue se deu bem, ficou com o vice-campeonato da competição e o primeiro lugar na escolha do público. O impressionante é que a DeepVogue foi a única designer não-humana inscrita. A DeepVogue é uma inteligência artificial (IA).

A moda é uma indústria de expressão cultural e criativa. Das estampas de Gianni Versace à elegância de Giorgio Armani e à libertação feminina de Coco Chanel. A moda está cheia de gênios que traduzem e influenciam comportamentos na mistura de tecidos, cores e estilos. O prêmio na China, então, representa um marco do quanto máquinas invadem um espaço fundamentalmente humano, o da criatividade.

Moda e inteligência artificial

Até então quando se falava em moda e inteligência artificial a referência se limitava à otimização operacional e à análise de dados para prever decisões de compra de consumidores. Zara, Dior e Nike usam IA para promover produtos, melhorar vendas e aprimorar a experiência do cliente. A britânica ASOS desenvolve, a partir de IA, cópias virtuais de modelos reais para apresentar um enorme catálogo de produtos. Na manufatura, a IA otimiza cortes nos tecidos para diminuir custo e desperdício.

Agora a IA faz o trabalho criativo de designers e estilistas humanos. O Google treinou uma para entender cores, texturas e estilos e criar designs alinhados aos consumidores. A consultoria Synflux, com sede em Tóquio, gera a partir de IA padrões de moda ​​para vestuário. A Amazon entrou nessa para produzir roupas sob demanda.

A criatividade das máquinas está também presente em outras expressões culturais. Em 2016 uma IA escreveu um pequeno romance e quase venceu o Prêmio Literário Nikkei Hoshi Shinichi, no Japão. Um algoritmo analisou o repertório da banda de rock Nirvana e criou no ano passado uma música como se fosse de autoria do vocalista Kurt Cobain, morto há 28 anos. Nas artes plásticas, basta uma busca na web por “pintura de IA” para descobrir centenas de obras cujos traços são de algoritmos.

Adaptação dos humanos

Depois de uma vertiginosa queda na pandemia a indústria da moda ensaia uma retomada de US$ 3 trilhões até o final da década com a ajuda de realidade aumentada (AR) e virtual (VR), impressão 3D e criptoativos. Só em inteligência artificial as marcas fashion investirão US$ 7,3 bilhões neste ano.

Há quem tema pela substituição dos humanos por robôs nos trabalhos criativos. Pode ser que aconteça, mas não ainda. A IA premiada na China contou com pessoas para importar imagens e temas no sistema e filtrar resultados compilados pelo algoritmo.

Mas o episódio serve de recado. Profissionais de todas as áreas precisarão aprender a trabalhar com a tecnologia de forma a desvendar possibilidades de inovação e a potencializar seus poderes fundamentalmente humanos. Senão, como já disse o robô mais famoso do cinema, “Hasta la vista, baby!”

Texto publicado por Wladimir D’Andrade no jornal Diário da Região em março de 2022.

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